Professor Marcelo Coutinho, analista sênior de hidrogênio.
O ano termina com um bom balanço para a indústria do hidrogênio verde no mundo. Em artigos anteriores fizemos a análise minuciosa dos principais relatórios internacionais que convergem para a conclusão de que houve um crescimento orgânico no setor. Essa indústria cresceu paulatinamente desde 2021, de maneira segura, e em 2024 viu acelerar as decisões finais de investimento, deixando muitos projetos já engatilhados para o ano novo.
As expectativas para 2025 são as melhores. Há uma compreensão agora generalizada de que acabaram as dúvidas com relação ao hidrogênio verde. Havia até este ano ainda muita especulação a respeito, inclusive com inverdades alimentadas por setores tradicionais concorrentes, claramente temerosos com a ascensão do novo combustível. A tecnologia se consolidou no meio empresarial e começou a ganhar espaço efetivo, ainda que numa escala muito pequena.
No Brasil, esse mercado ainda não decolou por causa da lentidão regulatória. Esse, aliás, é ainda o maior obstáculo para a indústria do H2V deslanchar por aqui. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) ainda não regulamentou normas técnicas e executivas, e o Ministério da Fazenda ainda não definiu as certificações com os inventivos correspondentes estabelecidos em lei. Mas isso deve acontecer muito em breve, juntando-se a outras legislações que beneficiam bastante essa nova indústria.
O mercado de carbono recentemente aprovado obriga a partir de agora as empresas a investirem em projetos como o hidrogênio verde e seus derivados, do contrário terão que pagar por créditos de carbono para outras empresas que têm tais projetos desenvolvidos. Uma empresa que emite 10 mil toneladas ou mais de CO2 equivalente terá que meter a mão no bolso de uma forma ou de outra para compensar isso. E 10 mil toneladas é mais ou menos o que emite apenas um jatinho que viaja 3 vezes por semana no Brasil. Ou seja, a lei pega muita gente, que terá que apresentar inclusive planos de monitoramento.
A pessoas físicas e jurídicas poderão compensar essas emissões plantando centenas ou milhares de árvores. Mas essa forma de compensação é muito limitada, tem passado por muitos escândalos de fraude e, o que é mais importante, está cada vez mais vulnerável aos incêndios florestais piorados justamente pelo aquecimento global. As queimadas no Brasil em 2024 foram marcantes, de modo que essas fazendas de árvores vão simplesmente virando fumaça. Os melhores projetos de compensação são aqueles vinculados à indústria verde, que substituem diretamente insumos e combustíveis emissores por não emissores ou neutros.
Outra lei aprovada neste fim de ano foi a das eólicas offshore. É esperada uma montanha de investimentos, mais de 5 bilhões de dólares até 2026, e muito mais depois disso. Sobretudo a região da Margem Equatorial será muito procurada. Estima-se que valerá em leilões algo como 100 bilhões de dólares, com cada espaço costeiro sendo muito disputado. O litoral do Maranhão até o Rio Grande do Norte será uma verdadeira OPEP da energia limpa global. E a maior parte dessa energia elétrica será para produzir hidrogênio verde. Estudos na Europa inclusive já demonstram que financeiramente é mais viável passar essa energia para o continente por gasoduto de H2V do que por cabos de transmissão.
Alguns projetos no país já estão maduros para acontecer. Alguns inclusive já aconteceram, como é o caso, por exemplo, da planta de hidrogênio verde da CSN, feita para substituir o carvão e o gás natural no alto-forno siderúrgico. A produção piloto de H2V da CSN em 2024 foi um verdadeiro sucesso, comprovando mais uma vez em termos bastante práticos que o hidrogênio verde é ideal para a fabricação do aço verde. Não se trata mais de uma ideia, mas de uma planta efetivamente em funcionamento com ótimos resultados de descarbonização.
Muitos outros projetos vão finalmente sair do papel em 2025. No exterior está tudo mais rápido, porém, há fortes razões para se acreditar que chegou a hora das decisões finais de investimento no Brasil também. Será algo em torno de 50 bilhões de reais em investimentos aprovados. Pelo avanço observado nas capacidades eletrolíticas encomendas, espera-se que haja um salto para múltiplos GWs sobretudo na Europa e na China. Ainda que o Brasil comece atrás nessa corrida, deve ganhar corpo ao longo do ano porque as questões regulatórias finais logo serão superadas, e a própria dinâmica internacional também nos impulsionará.
O Maranhão goza de enormes vantagens. Água, vento e sol em abundância única combinada, uma potente e completa infraestrutura porto-ferroviária, posição geográfica privilegiada, e indústrias minerais metálicas incomparavelmente superiores. Além disso, são poucas as empresas no país com a expertise adquirida pela maranhense SL Energias em matéria de eólicas, solares e, sobretudo, hidrogênio, com uma gama completa dos projetos e planos de negócios mais viáveis, inteligentes e diversificados do país, que vão desde combustíveis sintéticos até metanol e amônia verde, passando por central elétrica, armazenamento energético, aço e alumínio verde, entre outros.
Não há como competir com o Brasil, e não há como competir com o Maranhão quando o assunto é hidrogênio verde. Fato que se comprova facilmente em qualquer mesa técnica imparcial. Nada disso é novidade, e chegou a hora de mostrar quais de fato os projetos verdadeiros, aqueles que de maneira efetiva podem não só se viabilizar como ganhar escalas industriais mais altas e lucrativas.
Finalmente 2025 chega com todas as condições para que os projetos decolem, gerando muito emprego e renda para os brasileiros, e muitas oportunidades para o setor empresarial, além da compensação de carbono e da descarbonização propriamente dita. Ninguém mais segura a transição energética. Nada nem ninguém mais adia o que precisa acontecer para o bem comum. E o H2V é a bola da vez!
Boas festas!
Publicado em 20/12/2024