Marcelo Coutinho, analista sênior de hidrogênio. prof.marcelo.coutinho@gmail.com
O Fórum Econômico Mundial publicou nos últimos dias um relatório sobre o hidrogênio verde em que afirma o que já temos dito aqui há mais tempo: o melhor lugar no mundo para produzir o hidrogênio verde fica no Norte-Nordeste brasileiro. O relatório não nomeia especificamente, mas nós podemos aqui cravar. O melhor lugar do mundo para fabricar o novo combustível limpo que revolucionará a economia mundial e salvará o planeta do aquecimento global é o Maranhão, em função de suas incomparáveis abundâncias em todos os elementos naturais necessários para se fazer o H2V, além de uma infraestrutura porto-ferroviária muito apropriada.
De acordo com o relatório, extraordinários recursos renováveis – sol, vento e água – farão do Brasil o segundo maior fornecedor de hidrogênio verde do mundo, suprindo 10% de todo o mercado global. A Austrália viria em primeiro com 22% porque seria a principal fornecedora da Ásia, particularmente para a China. Na verdade, há uma subvalorização do potencial brasileiro neste relatório do organismo internacional. Nossos estudos nos dizem que o Brasil pode ser o primeiro. Algo semelhante ao que acontece com o minério de ferro, na competição histórica entre Brasil e Austrália, vai acontecer também com o hidrogênio.
Em que pese a discordância de qual país será o primeiro no agregado, o relatório do Fórum Econômico Mundial e os estudos da SL Energias concordam que a região específica entre o Norte e o Nordeste brasileiro tem o maior destaque individual. Já escrevemos sobre isso inúmeras vezes, o que agora o relatório internacional também confirma. O Maranhão está na Rosa dos Ventos estrategicamente posicionado. Além da maior proximidade com os ventos Alísios, que acarreta num potencial único em matéria de energia eólica, o estado fronteira entre as regiões Norte e Nordeste do Brasil, goza também dos excedentes de água e sol de cada uma dessas regiões respectivamente.
Além do maior deslocamento permanente de massa de ar do planeta para as usinas eólicas, sobretudo offshore, o Maranhão tem o sol que favorece o Nordeste para a energia solar, e a água que favorece o Norte para a eletrólise sustentável. Ou seja, o melhor dos mundos para produzir hidrogênio verde. Sozinho, estimamos que o Maranhão possa atender cerca de 5% da demanda internacional pelo H2V, o que fará o estado se transformar no novo motor da economia brasileira, além de oásis mundial do novo combustível. Alguns outros estados saíram na frente do Maranhão nessa corrida ao novo ouro do século XXI, é verdade, mas o tempo naturalmente fará o nor-nordeste prevalecer no final.
Assim como uma mina de ferro no Ceará jamais chegará sequer perto da produção e qualidade da mina de Carajás, o mesmo pode ser dito com relação ao hidrogênio verde. Vai haver H2V no Ceará, e muito, porém será apenas uma fração do hidrogênio maranhense, e por uma razão bastante simples: água. Na realidade, a forma mais inteligente e sustentável de utilizar a energia proveniente dos parques eólicos e solares do restante do Nordeste será canalizando a carga elétrica para as fábricas de hidrogênio verde no Maranhão. A propósito, o crônico problema de geração elétrica frustrada no Nordeste por causa dos naturais excedentes foi ainda mais agravado este ano pela decisão do Operador Nacional do Sistema de interromper a transmissão para o restante do país desde o apagão de 2023.
Diante do montante de energia frustrada que ameaça falir parques eólicos onshore no Nordeste, a produção de hidrogênio no Maranhão surge como uma salvação para os aerogeradores em estados como o Piauí, o Ceará e o Rio Grande do Norte. A melhor coisa a se fazer é cooperarem entre si. Todos vão produzir hidrogênio verde e energia eólica offshore, mas não na mesma proporção. Quanto antes isso ficar claro, antes também o Brasil passará à frente da Austrália e ocupará o primeiro lugar que lhe é devido neste novo mundo trilionário do hidrogênio.
Publicado em 20/08/2024