Sobre quem fará história

Professor Marcelo Coutinho, analista sênior de hidrogênio verde

Quais são os empresários que ainda farão história no século XXI? Pensando em nomes mais antigos na origem do capitalismo global no século XIX, talvez seja como o empreendedor americano Cornelius Vanderbilt, que construiu sua fortuna com a indústria naval e ferroviária. Ou como o rei do aço, Andrew Carnegie. Ou quem sabe um J. P. Morgan que formou a General Electric. Ou ainda John D. Rockefeller, que fundou a Standard Oil Company, a primeira gigante petroleira. A riqueza de Rockefeller se tornou a maior do mundo com a venda de dois derivados do petróleo que se desenvolveram primeiro, a querosene e a gasolina, enquanto muitos ainda matavam baleias. O petróleo começou a ser usado em lâmpadas, navios e carros.

Se, por outro lado, a comparação é com nomes do século XX, então pode ser algo como o exemplo de Henry Ford, que revolucionou a indústria automobilística e os métodos de produção industrial, tornando-se provavelmente o mais influente empresário de toda a história. Não podemos esquecer evidentemente de Steven Jobs, o líder dos computadores e celulares. Mais recentemente destacam-se Bill Gates, Mark Zuckerberg, Jeff Bezos e Elon Musk. Todos esses homens de negócios dos últimos séculos têm algo em comum além de terem se tornado grandes empresários donos de grandes fortunas no maior centro do mercado mundial: eles viam 10 ou 20 anos à frente, observando tendências do seu tempo.

No Brasil, podemos lembrar também de alguns nomes bastante conhecidos, cujas histórias se confundem inclusive com a própria história nacional de tão importantes que foram. O século XIX foi de Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá. Entre outras coisas, construiu a primeira estrada de ferro da América do Sul. Já o século XX foi de Francisco Matarazzo, o imperador da indústria brasileira em São Paulo sobretudo. Depois de Matarazzo, segue uma longa lista que poderia aqui ser resumida em Antônio Ermírio de Moraes, cuja extensão dos negócios vai da tecelagem à metalurgia. Isso para ficar entre os que já faleceram e não podem mais fazer a história dos negócios brasileiros no século XXI.

Eu poderia citar aqui alguns fortes candidatos a ingressarem nessa lista internacional hoje, a exemplo de Andrew Forrest, fundador de uma das maiores empresas de mineração do mundo, o Fortescue Metal, e que agora está investindo em hidrogênio verde mais do que qualquer outro empresário no momento. Mas, na realidade, qualquer nome que venhamos a destacar ainda é apenas uma tentativa de adivinhação, pois os novos negócios estão ocorrendo exatamente agora. Essa é uma história a ser construída de agora até os próximos anos para depois ser contada para as gerações futuras. Seja como for, não há a menor dúvida de que além dos óbvios setores de inteligência artificial e computação quântica, o hidrogênio verde é também onde nascerão os nomes que farão essa história acontecer.

Sejamos realistas, o Brasil não tem a menor chance de competir no campo das tecnologias de informação e rede. Quem acha que a depauperada indústria brasileira pode liderar algo em semicondutores, por exemplo, está apenas “viajando”, para usar uma linguagem popular. Do mesmo modo, é delirante imaginar que o mundo vai embarcar na ideia torta dos biocombustíveis para a transição energética, pois todos estão vendo o que isso está fazendo com os biomas e o clima brasileiro. Os biocombustíveis quando não matam com fumaça das queimadas criminosas e a desertificação, matam com enchentes, aprisionando chuvas por meio de bolsões de calor como ocorreu no Rio Grande do Sul recentemente.

Portanto, a indústria do hidrogênio verde é única de ponta em que o Brasil tem efetivamente mais oportunidades. Está tudo começando agora e o país tem vantagens comparativas naturais nessa área, especialmente o Maranhão, como já aqui tratamos em inúmeros outros artigos. Não há a menor dúvida de que as mulheres e os homens de negócio que farão a história agora serão aqueles envolvidos em projetos dessa indústria tão promissora em fase de decolagem. E farão uma história muito mais bonita, além de mais bilionária. Uma linda história de humanidade porque a única salvação para as mudanças climáticas é mesmo escalar a produção de hidrogênio verde. Sem ele, podem esquecer o futuro além da distopia contratada pelos combustíveis fósseis. E uma história bilionária porque fará o capitalismo industrial brasileiro se reerguer agora num setor estratégico e imprescindível para o mundo: a energia limpa.

Publicado em 16?09/2024

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